sábado, 31 de outubro de 2009

O MENINO SELVAGEM


O filme “L’Enfant Sauvage d’Averyon” (O Menino Selvagem de Averyon), de Fraçois Truffaut, baseado num caso verídico, relata a história de uma criança de onze ou doze anos que foi capturada num bosque, tendo vivido afastado da sua espécie e ficando depois à guarda do Dr. Jean Itard. Quando foi capturado, andava como um quadrúpede tinha hábitos anti-sociais, órgãos pouco flexíveis e a sensibilidade embotada, não falava não se interessava por nada e a sua face não mostrava qualquer tipo de sensibilidade. Toda a sua existência se resumia a uma vida puramente animal.
O seu isolamento, desde a infância, condicionou o menino à aprendizagem da sobrevivência, tendo assim, dificuldades de abstrair novas aprendizagens, consideradas “normais” à sociedade da época.
Podemos concluir que:
- o menino selvagem é considerado um surdo-mudo, já que não manifesta reação a estímulos exteriores (barulho) e não utiliza a fala; por outros é considerado um “idiota”, com problemas mentais;
- havia certo preconceito da sociedade da época em relação aos deficientes mentais e físicos, que eram rejeitados e excluídos pela sociedade, sendo encaminhados para instituições para débeis, asilos e colégios de surdos-mudos. O que demonstrava claramente que os surdos eram considerados “anormais” e “doentes” e que precisavam ser protegidos; na verdade, eram excluídos do meio em que viviam e não eram considerados cidadãos com habilidades e competências;
- apesar de o menino selvagem ter vivido isolado por anos na floresta, ele não tinha as mesmas capacidades físicas de outros animais, ou seja, os fatores biológicos afetaram suas ações enquanto selvagem;
- os fatores intelectuais não desenvolvidos e estimulados dificultaram as ações e aprendizagens do menino para viver em sociedade;
- muitas vezes o menino, respondia aos estudos e estímulos do professor com ataques de fúria, se jogando no chão e através de mordidas. À medida que foi desenvolvida a afetividade entre o menino e o Dr. Itard ou a Mme. Guérin, a aprendizagem se tornou mais fácil e houve um retorno maior do menino aos estímulos exteriores, demonstrando sentimentos e valores de justiça e moral, enquadrando-se aos poucos nos valores sócio-culturais da sociedade em que vivia;
- devido à fraca sensibilidade do sistema auditivo, a sua educação ficou incompleta;
- o sistema olfativo continuou sendo o mais desenvolvido, pois foi o mais estimulado na infância e serviu para sua sobrevivência junto aos animais da floresta;
- todo o seu desenvolvimento foi lento e trabalhoso, devido o seu isolamento na floresta e falta de estímulos intelectuais;
- as questões sociais e culturais são fundamentais para a formação do cidadão. É relevante compreender e atentar para as questões emocionais e psicológicas do ato de educar, desde a gestação até a fase adulta;
- o ato de educação, formal ou informal, depende sim de ações conscientes e humanas, voltadas para a formação do ser integral. Não se vive só, não se educa sem amor;
- a educação de portadores de deficiências físicas
e mentais é complexa e necessita ser tratada com responsabilidade e compromisso.

Um comentário:

celilutz1 disse...

Olá, Giovana:
Fizeste uma ótima leitura do filme.
Em certo momento colocas “...havia um certo preconceito da sociedade da época em relação aos deficientes mentais e físicos...” E hoje, será que ainda existe esse tipo de preconceito? Se uma criança semelhante a do filme fosse encontrada hoje, como será que seria a reação das pessoas? São questões para suscitar mais reflexões.
Abraço.
Celi